Brincar: o primeiro exercício de ativismo

“Eles não me deixam brincar!” - diz uma criança com raiva. A resposta é atirada de dentro do forte de cartão: “Ela está a destruir tudo o que nós construímos. Já lhe dissemos para parar, mas ela não para!”.

Rapidamente se monta ali uma ágora, onde se ouvem testemunhas de ambos os lados:

- “Eu vi! Foram eles que começaram.”;

onde se trocam argumentos:

- “Fui eu que comecei esta brincadeira, eu é que juntei os pneus.”;

onde se discutem conceitos de justiça:

- “Eu trouxe-vos aquela corda e agora vocês não me deixam entrar.”;

de equidade:

- “Deixaram-na entrar a ela e agora não me deixam entrar a mim. Porquê?”;

onde aparecem moderadores:

- “Já experimentaste pedir para entrar na brincadeira?”;

oportunistas:

- “Enquanto vocês discutem, estão a tirar-nos coisas!”

ou traficantes de influências:

- “Vou já contar ao meu primo que anda no 4º ano. Vais ver!”.

E depois, como dentro do ritmo próprio do brincar, as cadeiras giram na roda do recreio e quem fugia agora apanha, quem mandava agora obedece e quem moderava agora exalta.

Trabalhamos em escolas do 1º Ciclo no âmbito do projecto Brincapé, apoiado pelo BIP/ZIP (Câmara de Lisboa) e, a toda a hora, vemos situações como a descrita acima.

A nossa missão é defender e promover este brincar, aquele que é escolhido pela criança de forma o mais espontânea e livre possível, enriquecendo o recreio com cartão, lençóis, pneus - e todo o tipo de tralha - que só ganham vida pela vontade da criança, apelando à sua criatividade e capacidade de resolver problemas.

Acreditamos que o nosso trabalho é criar espaço para as crianças encontrarem soluções novas para estes velhos problemas. Não mostramos às crianças como se faz mas ouvimos das crianças quantas formas há de fazer, não apontamos o que devem dizer mas repetimos mais alto as suas palavras, não decidimos por elas mas enumeramos as várias consequências das suas ações, como quem abre caminho para a auto-determinação, para a liberdade de escolha, para o primeiro exercício de ativismo.

1,2,3 Macaquinho do Xinês

Mais informação:
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